Brasileiro que se especializou na cobertura de áreas de conflito fala sobre guerras da Ucrânia, Síria e embates na Amazônia
Em preparação para uma segunda viagem à Ucrâni...
Brasileiro que se especializou na cobertura de áreas de conflito fala sobre guerras da Ucrânia, Síria e embates na Amazônia
Em preparação para uma segunda viagem à Ucrânia, o fotógrafo e documentarista de guerra Gabriel Chaim conversou com o Trip FM sobre seus dez anos de experiência cobrindo alguns dos mais violentos conflitos que assolaram a humanidade. Gabriel esteve na Palestina, fez várias coberturas na Síria e, mais recentemente, acompanhou a Polícia Federal em operações contra o garimpo na Amazônia. Conhecido por estar onde a notícia se forma, muitas vezes em meio ao fogo cruzado, ele garante que teme muito a morte, mas aprendeu a lidar com ela enquanto está em campo – e para cada dose de tragédia há também muita esperança. “Na guerra, morte e vida convivem muito próximas”.
Em um papo reflexivo, Gabriel falou também de como se sente ao voltar à sua realidade no Brasil, dos povos yanomamis, da desvalorização da fotografia, entre outras coisas. A conversa fica disponível no play aqui em cima e no Spotify.
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Trip. Você acha que há fim para os conflitos no Oriente Médio?
Gabriel Chaim. Historicamente, os conflitos no Oriente Médio nunca acabaram. Muda-se a tecnologia de guerra, a catástrofe se torna maior, mais pessoas vão se deslocando de suas casas, mas o conflito não cessa. São muitas as coisas que estão por debaixo dessas ideologias que dizem buscar o bem. O motivo geralmente é muito mais econômico do que qualquer outro. Na Síria, por exemplo, é uma complexidade tão grande que nem os sírios entendem o que está acontecendo. Esse conflito da Ucrânia foi importante não só para demonstrar o quão destrutiva pode ser uma guerra, mas também para mostrar o quão seletivo o ser humano é em relação à dor do próximo. Imagina se existisse toda essa comoção no início da guerra da Síria? Quantas vidas não poderiam ser salvas?
Para que serve a fotografia de guerra? A fotografia de guerra é uma denúncia singular de uma parte do mundo que não vai bem. De algo da sociedade que está indo para o caminho oposto ao que se deveria. É um testemunho, é uma denúncia, é tudo isso junto. É um capítulo de um livro que vai ficar para sempre na história, o registro de uma época para uma nova geração se lembrar que aquele é um caminho para não se seguir. É importante para fazer com que as pessoas se sintam desconfortáveis.
A partir de suas experiências cobrindo guerras, como você passou a enxergar a nossa relação com o dinheiro? Eu saio de uma realidade completamente oposta ao que eu estou inserido quando volto ao Brasil, de forma muito impactante. Eu percebo pelo Instagram, por esse culto pelo milhão, por ficar muito rico, como se esse fosse o sinônimo do sucesso. Como as pessoas estão cultuando algo que deveria ser apenas uma utopia e deixando de acreditar em outros valores, em relação ao mundo como ele deveria ser. Na maior parte do ano eu estou filmando pessoas que passam necessidades econômicas por conta da ganância humana. Eu não trocaria o que aprendi nos últimos dez anos por nenhum dinheiro do mundo. Eu conquistei um valor imaterial que não tem preço. É um conhecimento maravilhoso? Não, é um caminho complicado com coisas que não são belas, mas agradeço todos os dias por ter tido essas experiências.
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