Em segunda parte de um papo potente, atriz fala de envelhecimento, da indústria audiovisual e da falta de controle no trabalho
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Em segunda parte de um papo potente, atriz fala de envelhecimento, da indústria audiovisual e da falta de controle no trabalho
"A maior dificuldade é imaginar, sendo a indústria tão etarista como ela é, qual espaço vai existir para a Maeve de noventa e poucos anos", diz a atriz Maeve Jinkings. "Eu acho que vai ser inteligente dos roteiristas contar essas histórias, pois no futuro a maioria da população vai ser de pessoas mais velhas. Eu quero chegar nos 120, com 70 ainda vou estar na flor da idade". Na segunda parte de uma conversa com o Trip FM, ela falou sobre envelhecimento, sobre a precarização do mercado audiovisual e a falta de controle do ator no resultado final de um filme. O programa está disponível no play acima e no Spotify. Você pode conferir a primeira parte desse papo aqui.
[IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2023/12/657cc2d393d54/maeve-jinkings-atriz-mh.jpg; CREDITS=Gil Inoue; LEGEND=Maeve Jinkings; ALT_TEXT=]
Trip. Com tanto tempo de cinema, consegue dizer o que falta alguma coisa em relação às condições de trabalho?
Maeve Jinkings. As plataformas de streaming entraram em um momento importante, possibilitando que a indústria continuasse em movimento quando perdemos a força do Ministério da Cultura. Por outro lado, eu sinto que neste momento de precarização e vulnerabilidade da indústria, foram estabelecidos alguns vícios. Quando você dá condições mais dignas de salário, jornada de trabalho, de distribuição de lucro, quando eu estou em um ambiente de trabalho sendo vista, é fisiológico, a minha criatividade, o meu tesão de trabalhar, é incomparável ao do ambiente onde não me sinto respeitada. Não é sobre paparicar, e nem só sobre os autores, em um ambiente justo todo mundo executa melhor a sua função. Sinto falta de falar disso com menos tabu.
Você disse que recentemente precisou ser caracterizada com 30 anos a mais. Como se sentiu? Me caracterizar com 70 anos de idade foi incrível, me deu uma confusão mental. Achei que fosse ficar assustada, mas confesso que gostei, me achei uma velhinha bem gata. Me deu uma segurança de saber que lá na frente vou estar vivendo coisas boas. Chegando aos 40 foi difícil perceber que estava com a vista cansada, por exemplo, mas hoje em dia já estou aceitando bem. A maior dificuldade é imaginar, sendo a indústria tão etarista como ela é, qual espaço vai existir para a Maeve de noventa e poucos anos. Eu acho que vai ser inteligente dos roteiristas contar essas histórias, pois no futuro a maioria da população vai ser de pessoas mais velhas. Eu quero chegar nos 120, com 70 ainda vou estar na flor da idade.
No Brasil existem grandes exemplos disso. A Fernanda Montenegro é um. O ofício do ator tem essa magia. Eu amo conversar com criança, com idoso, com quem for, porque eu estou contida em todas essas pessoas e essas pessoas estão contidas em mim. Eu aprendo muito sobre a nossa condição conversando com os outros. E fico pensando em como o mundo vai me tratar quando eu estiver mais velha. Quais serão as condições de trabalho? Não porque eu quero continuar produzindo o tempo inteiro, mas porque eu quero seguir trocando, me comunicando com as pessoas.
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