O influenciador conversa com o historiador Leandro Karnal sobre ódio, educação, fama e política
Escolhido pela revista Time uma das 100 personalidades mais influentes do mundo em 2020, Felipe Neto precisa conviver com agressões na internet e só sai de casa acompanhado por uma equipe de seguranças. Ainda assim, não se arrepende de defender o que acredita. No ano passado, ele fundou o Instituto Vero, dedicado à educação digital no Brasil. "A luta mais importante neste momento é contra as teorias conspiratórias no ambiente digital que disseminam as desinformações, as fake news e o assassinato de reputações", diz. "Temos uma população que não consegue diferenciar uma notícia que recebe no WhatsApp de uma publicação de um veículo tradicional de imprensa. A internet é a maior arma já criada pela humanidade. E entregamos para todas as pessoas sem manual de instruções".
O youtuber que soma mais de 43 milhões de seguidores bateu um papo com o historiador Leandro Karnal no programa Prêmio Trip Transformadores 20/21, que foi ao ar pela TV Cultura em junho, mas que agora você pode curtir também em áudio no Trip FM, disponível no player nesta matéria ou no Spotify. Na conversa, eles falam sobre ódio, educação, fama, luta e, é claro, política.
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Leandro Karnal. A minha primeira pergunta é geógrafo-psicológica. Qual é a distância sentimental, material, pessoal, entre o Buraco do Padre e a Barra da Tijuca?
Felipe Neto. Essa distância é imensurável em termos emocionais. Eu tenho muito orgulho das origens que tive, da luta, da vida que vivi. A Barra da Tijuca é muito mais uma fuga do que necessariamente uma vitória. Na situação de violência que a gente vive no Rio de Janeiro, e a perseguição e as ameaças que eu sofro, acaba sendo um local onde consigo ter alguma segurança. Mas é claro que eu vim de um lugar humilde e hoje tenho uma estrutura muito boa. E agradeço a cada segundo por todos aqueles que tornaram isso possível.
Você é um grande influenciador, tem milhões de seguidores. Ser também um personagem, ter uma persona pública, isso te prende? Sem dúvida. Quando a gente se comunica temos sempre traços de personalidades distintas e às vezes de personagens que criamos. Seja na frente de uma câmera ou numa conversa de bar, a gente sempre está manifestando alguma persona. Então quando a gente tem uma exposição muito grande, como é o meu caso, precisa, sim, refletir sobre o que eu estou dizendo, como eu estou dizendo e como as pessoas estão recebendo essa minha mensagem. Porque nós não somos apenas aquilo que dizemos, mas também como somos interpretados. E a gente não pode se eximir dessa responsabilidade. Se eu falo uma coisa e as pessoas interpretam diferente, isso não significa que as elas são burras, e sim que eu falei da maneira errada. Então é um aprendizado, uma luta constante pra não se tornar o vilão da história e tentar evoluir, tentar aprender, e ao mesmo tempo não soar chato. Então são muitos pratos para serem equilibrados e acho que venho fazendo um trabalho suficiente pra me manter estável com meu público.
Essa década que você atravessou mudou muito seu enfoque e o tipo de conteúdo que você produz. Isso é idade, a responsabilidade, a reflexão? Eu acho que os 30 anos me mudaram muito. Até ali eu ainda estava naquela corrida pra me estabelecer financeiramente, que é o grande desejo das pessoas no âmbito econômico capitalista. Hoje eu tenho 33 anos e, quando eu consegui atingir essa estabilidade, as prioridades também começam a mudar. Você começa pensar: de que forma posso usar esse dinheiro para outras causas, usar meu tempo pra ajudar pessoas, estudar mais, absorver mais conteúdo? Meu consumo de literatura aumentou consideravelmente depois dos meus 30 anos e minha quantidade de trabalho diminuiu um pouco. Hoje eu trabalho um pouco menos e leio um pouco mais. Os livros, o tempo inteiro, me transformam. E eu gostaria muito de levar isso pra mais gente, influenciar os jovens que me seguem a lerem mais. E pretendo criar projeto nesse sentido.
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