Ator e finalista do BBB relembra papeis emblemáticos, fala de racismo, família e dinheiro: “Já passei por poucas e boas e nada me abalou"
“No Big Brother Brasil, falar um grão de areia pode pesar toneladas”, diz Douglas Silva. Um dos finalistas do programa, o DG, como ficou conhecido, quase não entrou na casa com medo das consequências que a fama poderia trazer para a sua família. Mas aceitar o convite do BBB acabou sendo um acerto na carreira do ator. Indicado ao Emmy Internacional por seu trabalho na série “Cidade dos Homens”, Douglas finalmente pode decidir os projetos em que vai embarcar e, principalmente, por qual tipo de remuneração. Aos 34 anos, o ator acumula vinte de carreira, já que começou carreira ainda criança vivendo inesquecível Dadinho, de “Cidade de Deus”. Sobre seu desempenho no filme que dividiu águas no cinema brasileiro, ele lembra: “A preparação de elenco foi fundamental, mas a minha vivência na favela ajudou muito também”.
O artista nasceu na favela da Kelson’s e, incentivado por uma professora, começou no teatro aos oito anos. Obstinado, DG mergulhou em toda oportunidade e, desde o seu primeiro teste, já para o célebre filme de Fernando Meirelles, nunca parou de trabalhar. “Precisei acreditar muito em mim para tirar a minha família do buraco de onde tirei”, diz.
Em um papo alto-astral com o Trip FM, Douglas falou da infância, de racismo e paternidade: “Já passei por poucas e boas e nada me abalou.” Leia um trecho abaixo ou ouça a entrevista completa no play aqui em cima ou em nosso canal do Spotify.
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Trip. A atriz Viola Davis tem um discurso famoso em que compara a carreira dela com grandes nomes do cinema e diz não estar nem perto de uma Mery Streep, por exemplo, em termos de grana. Como é esse aspecto da sua carreira?
Douglas Silva. É só você comparar tempo e volume de trabalho de um preto e um branco: qual é o status de cada um? É ruim, mas a gente segue batalhando; eu não me esmoreço. Meu objetivo é deixar a minha família bem. Agora eu estou na crista da onda, só agora nesse lugar com poder de negociação. É ruim eu ter precisado de 22 anos de carreira, com filme indicado ao Oscar e indicação ao Emmy, para atingir uma remuneração que eu ache justa. Pessoas que não tem nem a metade dos anos de carreira que eu tenho estão deslanchando em grana.
O Babu já falou a seguinte frase em uma entrevista para a Trip: "Eu não consegui notoriedade com a minha arte, consegui com um show de entretenimento, onde todo meu conhecimento não foi usado, no sentido de construção de personagem. Às vezes é frustrante viver da arte no país". Você se sente da mesma forma? Ter ganhado fama no BBB não me incomoda. Eu sei me reinventar. Com 34 anos, ainda sou jovem, apesar de estar na pista desde os dez. Óbvio que é triste ter que estar 100 dias dentro de uma casa para o Brasil me conhecer. É triste por eles que não se alimentam de cultura. Dá pra consumir muitas outras coisas. Mas está sendo muito bom ter participado do Big Brother.
Você é otimista em relação ao Brasil? Eu sou muito otimista: hoje a minha realidade é muito diferente de todos os meus amigos. Precisei acreditar muito em mim para tirar a minha família do buraco da onde eu tirei. Eu creio muito que a gente possa ter um país com mais igualdade. Racismo não é uma doença, racismo se ensina – você pode quebrar isso na base.
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