Produtora fala sobre começo da carreira, imagina a vida longe de Gilberto Gil e conta dos bastidores de série sobre Jorge Bastos Moreno
Flora Gil podia estar deitada numa rede embaixo do abacateiro, mas entrou no Expresso 2222. Aos 18 anos, pegou carona com Gilberto Gil, em Salvador, e desviou sua rota. Encantou-se com o músico baiano, de 38, e tirou o sono dos pais. No ano seguinte, trocou Moema, bairro nobre de São Paulo, pela vida a dois num sítio em Jacarepaguá, no Rio. Ciumenta e insegura, foi uma namorada indesejada pelos amigos. Peitou três ex-mulheres e cinco filhos e hoje reúne todos na mesma mesa.
Flora fez do marido o primeiro artista brasileiro a ter direito sobre 100% de suas obras. Comanda as empresas da família, produz o camarote Expresso 2222, o mais concorrido do Carnaval baiano, e acaba de lançar a série documental “O Repórter do Poder”, sobre o jornalista Jorge Bastos Moreno e seus jantares que reuniam presidentes, governadores, artistas e jornalistas e moldavam a política do país.
Em um papo com o Trip FM, Flora tenta imaginar a sua vida sem o Gil, lembra da infância em Moema, quando era vendedora de calça jeans, e revela o que o marido tem de mais chato. Leia um trecho abaixo, dê o play na entrevista ou confira o papo completo no Spotify.
Trip. A sua história é muito atrelada a do Gilberto Gil. Você consegue imaginar como teria sido sem ele?
Flora Gil. A primeira casa que eu tive foi com o Gil, a primeira vez que eu fui assaltada foi com o Gil, fiquei grávida com o Gil... Não consigo imaginar a minha vida sem ele, mas somos uma família igual a de todo mundo: ficamos doentes, tristes, discutimos. Se bem que a discussão é até regada a risada. Não é uma família que um não fala com o outro, nunca teve isso.
Você era muito nova quando conheceu o Gil, um homem negro 18 anos mais velho, que já tinha casado outras vezes, o que para uma família de classe média de Moema deve ter gerado reações. Como foi isso? Quando comecei meu relacionamento com o Gil, o que mais levantou a bandeira vermelha na minha família não foi o preconceito com a cor. O que mais chocou foi, sim, o fato de ele ser cantor, com cinco filhos e três casamentos anteriores. Meus pais ficaram chateados: a vida do artista era um mistério na época. Eram 18 anos de diferença. No fim, quando o Gil começou a ir em casa, eles o adoraram. O Gil vai arrumar encrenca com quem?
O documentário sobre o Jorge Bastos Moreno acaba revelando o que a gente pode até interpretar como uma promiscuidade, uma relação próxima demais entre jornalistas, políticos e artistas, que muitas vezes parecia até influenciar as diretrizes do país. Você concorda? Se a gente pegar a vida do Jorge Bastos Moreno, de como ele juntou pessoas: artistas, presidentes, governadores, jornalistas… Será que havia promiscuidade do poder? Eu não vejo assim. Não tinha nada escondido, atrás da cortina. Não era um cassino com milicianos na porta – estava lá quem queria. O Moreno era uma experiência do contato e da relação. Mas é verdade que muitas coisas da política saiam de lá, era uma aptidão dele.
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