Uma das figuras mais marcantes da história do Big Brother, o economista fala sobre fama, cotas, Juliette e, claro, cachorrada
Desde o momento em que entrou para o Big Brother, Gil do Vigor já sabia que ao fim do programa iria trocar de siglas: do BBB direto para o PhD. Criticado durante o programa quando falou que não precisava do prêmio de 1,5 milhão de reais, mas sim grana para conseguir seguir os seus estudos, Gil – mesmo tendo ficado em quarto lugar no reality – já superou em muito o valor da premiação por meio de parcerias com marcas e mesmo assim cumpriu a promessa, largou a oportunidade de ficar no Brasil colhendo os louros da fama, e partiu para a Universidade da Califórnia. “Quando eu saí do programa e vi tudo o que tinha acontecido, pensei: ‘Nós vamos ter acadêmico preto, gay e religioso para mostrar que o nosso país é assim, todo diverso’. Foi também um jeito de dizer para as pessoas que não existe preço para educação”.
De volta ao país em período de férias, Gil conversou com o Trip FM sobre igualdade racial, cotas, alta dos juros, Juliette, fama, dependência química e, como não poderia ser diferente, de cachorrada. O programa fica disponível no play aqui em cima e no Spotify.
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Trip. Você viu diferença entre ser negro nos EUA e no Brasil?
Gil do Vigor. Nos EUA há uma luta pela igualdade racial que é muito latente. Aqui no Brasil nós estamos engatinhando. O racismo ser estrutural não é uma desculpa. Um tapa que a gente leva vai nos ferir, independente se havia ou não a intenção de me machucar. Eu falo muito sobre o sistema de cotas. Cota não é esmola, é uma forma de gerar oportunidade para um grupo que durante muito tempo foi colocado em desvantagem e não consegue competir de igual para igual. A gente precisa proporcionar cenários que gerem uma disputa minimamente igualitária. Sem isso eu não estaria fazendo um PhD em uma das melhores universidades do mundo.
Muita gente vê grana e coloca a educação em segundo plano, mas com você foi o contrário. Por quê? Nunca foi uma opção não fazer o meu PhD. A ideia era ganhar o BBB em maio e viajar para estudar em agosto. Quando eu saí do programa e vi tudo o que tinha acontecido eu pensei: 'Nós vamos ter um acadêmico, um homem preto, gay e religioso para mostrar que o nosso país é assim, todo diverso’. Foi também um jeito de dizer para as pessoas que não existe preço para educação. Quando eu estou fazendo uma prova, com dor na coluna, cansado, eu começo a sorrir. Todo mundo desesperado, querendo nota alta, e eu ali apaixonado, podendo estudar. Eu fui muito criticado quando no programa falei que não precisava do R$ 1,5 milhão. Eu não tinha onde cair morto e falei isso. É porque pobre de verdade nem divida consegue, nem crédito no banco tem. Se está devendo 200 mil não é pobre. Eu precisava de 1 milhão? Não, minha dívida era de 10 mil. E eu sempre deixei claro que eu precisava era de uma condição social para conseguir estudar e adquirir o conhecimento que me levasse a ser uma pessoa importante e que contribui de fato para o meu país. Claro que beijar, fazer cachorrada é legal, mas isso não tira de mim toda a beleza de ser um acadêmico, um estudante e de ter o meu papel como economista e como uma pessoa da mídia.
Na infância você conviveu com a condição de dependência química do seu pai, algo que nem todo mundo sabe. Como foi esse lado da sua vida? Durante muito tempo foi um dos grandes traumas da minha. A gente fala na economia que são as externalidades: quando as minhas decisões de consumo afetam as pessoas ao meu redor. Minha mãe teve que se desdobrar para cuidar de três filhos e também do meu pai. Além de ter que entender ele como um doente, tinha todo o estresse e a revolta de não ter o apoio do marido. Eu vi os surtos e as crises do meu pai, todos os altos e baixos. É muito triste. As escolhas que eu tomei em minha juventude, muitas vezes, foram baseadas em meu pai, de onde não chegar. Ele era muito inteligente, com ótimos empregos, mas se perdeu muito. Quando eu lembrava que também tinha todo esse talento, consegui colocar essa genética para outra direção.
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