Sua infância passou distante dos esportes. Ela aprendeu a nadar apenas para sobrevivência, caso um dia fosse preciso. Os 45 minutos semanais de educação física da escola eram sofridos. Boa de garfo, ela foi chamada de gordinha muitas vezes até que ainda na pré-adolescência se assustou ao ver algumas fotos suas segurando o irmão recém nascido no colo. Decidiu entrar em forma usando uns antigos aparelhos de ginástica da sua mãe. Um ano depois e dez quilos mais leve, uma amiga a apresentou à corrida. Era uma atividade mais divertida, mais dinâmica e queimava as calorias que ela tanto queria. Passou a correr nas famosas areias da Praia de Icaraí, dia sim, dia não. Adorava terminar os treinos com uma água de côco geladinha e sentindo-se bem, leve e magra, o que ainda era fundamental para ela.
O que ela não previa era que aquela sensação a transformaria para sempre. Desde então, sua vida tomou um rumo que jamais havia imaginado. A corrida passou a ser orientada e ela começou a curtir a progressão do seu desempenho. Procurou ajuda, deixou para trás os transtornos alimentares que acabou desenvolvendo e, pouco tempo depois, foi apresentada ao triathlon, onde conheceu o garoto que viria a se tornar seu marido. Ele lhe contou tudo sobre a história dos ícones niteroienses que fizeram história na modalidade e ela, por sua vez, havia encontrado uma maneira de passar mais tempo em companha do namorado. O gosto pela performance foi aumentando até que durante um período de greve na Faculdade de Direito, com tempo sobrando, ela decidiu se dedicar mais ao triathlon, acompanhando a rotina do namorado.
Passou a gostar cada vez mais da modalidade e foi evoluindo aos poucos, até que um dia, com 20 anos, seu treinador e ídolo, Marcus Ornellas, a disse era talentosa e teria chance de brilhar no esporte. Graças a ele que ela se inscreveu no processo seletivo para se tornar atleta da Aeronáutica e meio sem acreditar, conquistou uma vaga, passando então a competir profissionalmente como triatleta, em paralelo aos estudos e estágios.
Ela foi então de filha rebelde, que escolheu sair da caixinha e arriscar a vida de atleta profissional, a orgulho da família. Foi bicampeã Brasileira sub 23, venceu a final da Copa Brasil em 2014, é octacampeã Estadual, vencedora do 70.3 de Coquimbo em 2017, no Chile e Bi-Campeã do triathlon curto e do Long Distance de Pirassununga.
Em 2019 ela começou a apresentar sintomas de depressão e mesmo assim estava decidida a participar de um Ironman em 2020, veio a pandemia e mudou seus planos. Longe das competições e livre da depressão, ela passou a colocar em perspectiva a sua relação com o esporte e decidiu engravidar. A maternidade a fez mudar totalmente o foco e novamente repensar a sua relação com o esporte. Enquanto se ajustava à nova rotina, decidiu fazer o que era viável e passou então a dedicar-se somente às corridas. Ano passado ela venceu as meias maratonas das Cataratas de Foz do Iguaçu, a Rio City e a de Niterói
Ela é uma apaixonada por esporte e pelas coisas que o envolvem. Uma mulher que deseja contagiar as pessoas com esse amor. Para quem o treino é muito mais do que uma profissão. É terapia, prazer e liberdade. Conosco aqui a triatleta que um dia foi obcecada pela performance, advogada, mãe do João, a niteroiense magérrima Luíza Cravo de Azevedo.
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