Ao longo dos séculos, as mulheres foram as principais responsáveis pelos cuidados das próximas gerações, bem como pelas demandas da casa e da família. Mais recentemente, é cada vez maior o número de mulheres que se tornaram provedoras do lar – quando não as únicas a manter a casa financeiramente. Além disso, enfrentam inúmeras cobranças, como ser a melhor profissional, criar futuros CEOs, deixar a casa impecável, cuidar da aparência e da vida social... O resultado da identificação com metas inatingíveis tem sido o burnout. Para entender como chegamos a esse ponto e quais as possíveis saídas, Natuza Nery conversa com a psicanalista Vera Iaconelli, doutora pela USP e diretora do Instituto Gerar de Psicanálise. Ela é autora do livro recém-lançado “Manifesto Antimaternalista - Psicanálise e Políticas da Reprodução”. Neste episódio: - Vera explica que, ao longo da história, as mulheres foram acumulando papéis sem nenhuma contrapartida da sociedade: "as mulheres estão adoecendo, ou simplesmente desistindo de ter filhos"; - A psicanalista explica a ideologia maternalista: muitas mulheres incorporam a crença de que elas estão falhando, não que o modelo atual de maternidade é o problema. "Burnout é o quanto você se identifica com essa demanda insana", diz ela; - Segundo Vera, o sofrimento psíquico acontece em todas as classes sociais, embora as brancas e mais ricas tenham mais apoio. As mais pobres ainda lutam pelo direito de cuidar dos filhos em condições mínimas; - As possíveis saídas, para ela, passam por mudanças na mentalidade das próprias mulheres e por mudanças sociais e econômicas.
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