A paulista fala sobre a 2ª temporada da série “Os Outros”, sucesso da Globoplay, drogas, relacionamento e maternidade
Leticia Colin cresceu diante das câmeras, deixando um pedacinho de si em cada personagem que interpretou, como ela mesma relata. Hoje, com 33 anos e mais de duas décadas de carreira, ela parece ter adquirido muito mais do que deixou para trás, mesmo sem ter tido tempo para buscar uma formação formal em sua área. Em um papo com o Trip FM, sempre com clareza e doçura, inclusive ao discutir assuntos complexos, como a depressão e comentar seus novos papéis, a atriz contou, em primeira mão, sobre a sua entrada no elenco da segunda temporada da série “Os Outros”, sucesso da Globoplay. Neste novo papel, muito mais densos do que outros que já teve na TV, ela dá vida à Raquel, uma evangélica com dificuldades de engravidar — que, claro, também se envolve nos conflitos do condomínio de classe média no Rio de Janeiro.
Embora se sinta nervosa devido à grande responsabilidade desse papel, também vê nele uma forma de amenizar uma insegurança constante de ficar parada: “Tenho dificuldade em ficar sem trabalhar. Como faço isso há muito tempo, tenho essa tendência à produtividade, algo que afeta a todos nós. Não nos permitimos o ócio porque tememos verdadeiramente conhecer nossas mentes”, disse.
Leticia falou ainda sobre drogas, das experiências intensas de quando está gravando, de relacionamento e maternidade. O programa completo está disponível no play aqui em cima e no Spotify.
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Trip FM. O que você aprendeu sobre adicção em "Onde Está Meu Coração"?
Nós estamos em uma sociedade que cada vez mais produz a adicção. Seja medicamentosa, de games, de comida, de álcool, cocaína, sexo. É uma sociedade que lida muito mal com isso, e não como uma questão de doença, mas de polícia. Aí a coisa degringola e piora muito mais. Todo mundo tem alguém que ama que vive algum problema de adicção. Ao mesmo tempo, nós somos uma sociedade que normatiza o álcool, une a socialização ao uso do álcool. Em “Onde Está Meu Coração”, nós falamos muito do crack e mostramos que a droga não para nos mais pobres, que ninguém está a salvo. É sobre a nossa condição humana que adoece e fica compulsiva.
Como você faz para se desconectar de personagens densos como esses que tem feito ultimamente?
O que a gente deixa no personagem, o que ficou gravado na retina da câmera, nunca mais volta. O que dei, o pedacinho da minha alma, ficou eternamente gravado naquele personagem. É bom também ir se colocando pelo caminho. Mas a gente recebe coisas também. Tem sensações em cena tão verdadeiras que aquilo gera algo, algo que estamos inventando na Terra. Você se apropria daquilo, que vai te pertencer para sempre.
Esse seu jeito de falar sobre as coisas da vida com doçura vem do budismo?
Verdade sem amor é crueldade, então sempre temos que colocar uma coisa mais doce pra vida não ficar dura demais. Eu já tive depressão algumas vezes, sou muito sensível. Eu não quero nunca que ninguém se sinta como eu. Óbvio que tem uma hora que vai ficar muito ruim a parada, mas isso também tem a beleza de ser a vida em si e de nesse momento a gente conseguir se reconhecer humanos, desarmar, chorar e experimentar uma sensação nova, levantar e ir adiante. Esse ciclo de algo dar errado, quase desistir e voltar à vida é muito bonito. Mas não é só cíclico, é espiralado, porque você roda, mas sai um pouco mais na frente.
Há algum tempo, uma manchete anunciava que você tinha revelado o segredo do seu relacionamento, que um relacionamento não é algo fácil de manter. Como você tem feito?
O Uri [filho] vai fazer quatro anos e agora sinto que sou mais confortável com essa nova função materna. Eu com o Michel já passamos por muitas fases, algumas muito difíceis, da gente achar que não está conseguindo renovar o olhar para o outro. O segredo do relacionamento é que ele acaba e depois recomeça. Você ter coragem de deixar isso vir à tona é a única coisa que faz ser possível recomeçar. E recomeçar é mais difícil que começar porque você já sabe o que vem pela frente.
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