Já reparou como nós, pessoas com deficiência visual, ficamos “vendidos” diante de marcas, empresas, bancos, grandes corporações e o governo? Se para quem enxerga e não tem deficiência já é difícil, imagine para nós...
O que fazer quando nossos direitos, enquanto pessoas e cidadãos, são desrespeitados? O que fazer quando somos completamente ignorados e desacreditados?
Sim, temos a LBI a nosso favor, mas insisto: o que fazer quando essas empresas ignoram a existência dela e dizem “é norma interna”? Como se qualquer norma ou política interna pudesse suplantar uma lei federal... Ou pior, o que fazer quando nem sequer há a possibilidade de sermos atendidos ou ouvidos?
Você briga? Faz escândalo? Chama a polícia? Entra na justiça? E até que isso seja resolvido, continuamos sem nossos direitos, sendo ignorados, como se não existíssemos.
O que você, que não tem deficiência, faria se fosse impedido de abrir uma conta? O que faria se qualquer meio de transporte se recusasse a levá-lo? O que faria se fosse ignorado por um serviço público ou privado, mesmo precisando dele? O que faria se fosse impedido de entrar em um shopping sozinho, tendo que esperar 40 minutos ou uma hora para o segurança atendê-lo? O que faria se tentasse comprar algo e isso só fosse possível com testemunhas, mesmo que o dinheiro fosse seu? O que faria se, para provar sua identidade, precisasse pedir ajuda a um terceiro? O que faria se tivesse que compartilhar sua privacidade financeira com outras pessoas porque nenhum banco considera isso importante? O que faria se a cada esquina fosse lembrado de que é incapaz e irrelevante? E tudo isso apenas porque você é você, e não pode mudar isso. Pesado? São apenas alguns exemplos do nosso cotidiano.
A verdadeira lei que nos protege são pessoas com boa vontade e bom senso, ainda existentes, mas infelizmente cada vez mais raras. E quando isso acontece, não vem de grandes marcas ou corporações multimilionárias, mas do pequeno comerciante, do mercadinho da esquina, do desenvolvedor independente, da lanchonete do bairro, do negócio familiar, da loja que não é uma gigantesca franquia, etc. Essas pessoas, por trás dessas empresas e tecnologias, produtos e serviços que nos incluem, lucram mais e ganham clientes fiéis. Talvez essa empatia e consciência surjam de um caráter inclusivo ou talvez por experiências próprias, de amigos, familiares ou convivência com uma pessoa com deficiência, mas definitivamente não por força da lei.
O preconceito, a desinformação, a intolerância e a burrice estão cada vez mais presentes em nossa rotina. Estamos avançando em tecnologia de maneira surpreendente, mesmo que muitas delas sejam excludentes para nós, mas estamos retrocedendo como humanidade, como sociedade. Nós evoluímos, sim, mas a doença também evolui, e a pior é a do espírito. E o meu não está à venda.
São as pequenas fagulhas na escuridão profunda que renovam a minha crença de que, talvez, não cairemos no abismo.
Escrito por: Fernando Scalabrini
Lido por: GPT Plus
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